ORIGENS E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA FOTOGRAFIA.  4.1-Antecedentes da fotografia

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Origens e evolução histórica da fotografia
4.1. Antecedentes da fotografia

Desde a antiguidade o ser humano interessou-se pelos fenómenos e efeitos da luz na visão. Na China, no séc. V A.C., Mo Ti observou que os raios luminosos, reflectidos por um objecto iluminado, passando através de um pequeno buraco de uma caixa escura, davam desse objecto uma imagem invertida mas exacta (câmara escura).
Também Aristóteles descreveu o princípio da câmara escura. No séc. X, um sábio árabe, Ibn Al-Haitham constatou que a imagem formada em câmara escura era tanto mais nítida quanto a abertura do "projector" fosse mais pequena. Pelo contrário, a imagem esvaía-se quando se aumentava a abertura para deixar passar mais luz. Fenómenos semelhantes foram descritos por Roger Bacon no séc. XIII e pelo físico holandês Reinerius Gemma-Frisius no séc. XVI, autor da primeira ilustração conhecida de uma câmara escura.


A primeira notícia documental do uso da câmara escura data de 1558, na obra Magiae Naturalis do napolitano Giovanni Battista Della Porta, que contém detalhes sobre a sua construção e uso, assim como descrições que provam que o dispositivo era bem conhecido pelos sábios, ilusionistas e artistas da época. Estes usaram-na a partir do Renascimento, com o advento da perspectiva. A câmara escura era literalmente um quarto escuro, que deixava passar a luz por um buraco feito numa parede, estando esta parede paralela a uma outra ou a um plano sobre o qual a imagem projectada aparecia em cores naturais (fig. 27 - Stefano Della Bella - Câmara escura com vista de Florença - desenho a tinta).

A câmara escura teve porventura um papel extremamente importante na pintura a partir do Renascimento. Leonardo da Vinci e Vitrúvio descreveram-na e pensa-se que esta foi muito usada quer por Leonardo, quer por outros pintores renascentistas para a formação da imagem como auxiliar do desenho e da pintura. O pintor (e fotógrafo) contemporâneo David Hockney no seu livro Secret Knowledge: Rediscovering the lost techniques of the old Masters descreve excelentemente a importância do uso da câmara escura e outros aparelhos ópticos na pintura ao longo dos séculos.


Entre os séc.s XVII e XIX a câmara escura não parou de evoluir. Lentes com mais qualidade definiam melhor a imagem, espelhos corrigiam a sua inversão e projectavam-na sobre superfícies melhor adaptadas ao desenho. Ainda no séc. XVII o alemão Athanasius Kircher projectou um tipo especial de câmara escura portátil, em forma de tenda desmontável, muita usada pelos artistas para desenho de paisagem.

fig. 28 - A. Kircher - Grande Câmara Escura Portátil - 1646 - Gravura


A "Camera Lucida", inventada em 1807 por William Wollaston, combinava um prisma e uma lente sobre um suporte, o que permitia ao desenhador ver o objecto pretendido em sobreposição no papel de desenho, o que lhe facilitava a transcrição. (fig. 29)

O pintor holandês do séc. XVII, Jan Vermeer, autor de belas, rigorosas e enigmáticas pinturas, terá sido um dos utilizadores da "Camera Lucida" que melhor partido dela tirou (imagem ao lado)

No séc. XVIII realizam-se as primeiras experiências com substâncias químicas capazes de registar as imagens na câmara escura, sem ter que as desenhar à mão. Estuda-se assim, a propriedade, conhecida já há algum tempo, de algumas substâncias enegreceram com a luz. As primeiras a serem ensaiadas foram os sais de prata: cloretos, iodetos e brometos.


Em 1725, Johann Heinrich Schulze, professor de medicina alemão, ao explorar a fotosensibilidade do nitrato de prata, conseguiu obter uma imagem, ainda que pouco definida e momentânea.
Em 1777 o químico sueco Carl Wilhelm Scheele constatou que o cloreto de prata, não submetido à acção da luz, se dissolvia no amoníaco. Esta descoberta será utilizada posteriormente para tornar permanentes as imagens fotográficas de modo a que estas pudessem ser visionadas com luz (as primeiras experiências fotográficas tinham que ser conservadas em locais com muito pouca luz para impedir o seu escurecimento com a acção da luz).


Em 1802 o inglês Thomas Wedgwood, associado ao químico Humphry Davy, ensaiou a reprodução de imagens sobre couro e papel embebidos numa solução de nitrato de prata. As suas experiências demonstraram que era possível obter quimicamente através da luz, não somente imagens indefinidas, mas também o contorno de objectos como folhas de árvore e tecidos. No entanto não descobriram ainda o método de parar a acção da luz sobre os sais de prata. A menos que fossem guardadas na escuridão total, as imagens apagavam-se completamente.
A capacidade de "fixar" as imagens expostas surgiria uns anos mais tarde... >

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Esquema de câmara escura (adaptada de Kepler) - 1604

Câmara escura com espelho reflector (séc. XVII)

Fig. 29 - Desenhando com Camera Lucida - V. Chevalier, Paris 1834

David Hockney - My Mother - Colagem fotográfica - 1982

David Hockney - Capa do livro Secret Knowledge ... - 2001

David HockneySecret Knowledge - Rediscovering the lost techniques of the Old Masters

Durer - Draughtsman Drawing a Recumbent Woman. 1525. Xilogravura

Jan Vermeer - O geógrafo. Óleo s/ tela.  1669

Thomas Wedgwood - "Fotograma". c. 1802

4.2 - A fotografia (Origens e evolução histórica) >

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