1. LUZ-COR

ac. História da Fotografia.   (foto - Ansel Adams - the wave)


Natureza da luz
A luz é a matéria básica da fotografia. A palavra "foto-grafia" deriva aliás, de dois vocábulos gregos que significam "escrita/desenho com luz".
Para ver, precisamos de luz. Actualmente isto é uma evidência, mas nem sempre foi assim. Platão considerava a visão como sendo devida não à entrada de luz, mas antes a partículas projectadas dos olhos, aspergindo os objectos que nos rodeiam. Nos últimos 3 séculos, houve duas teorias divergentes acerca da natureza da luz. ISAAC NEWTON (1642-1737) - que foi quem primeiro que conseguiu decompor a luz branca em luz de cor, através de um prisma óptico - sustentava que a luz seria constituída por um fluxo de partículas, enquanto Christopher Huygens (1629-95) pretendia que seria devida a impulsos, que ele considerava como pequenas esferas elásticas em contacto umas com as outras, viajando através de um meio fundamental, o éter.

fig. 1 - Diafragma de Newton (deve ser lido da direita para a esquerda)

Ansel Adams - Canyon De Chelly

A. C. - Anémona. Matosinhos. 2016

A controvérsia sobre a natureza da luz é uma das mais interessantes da história da ciência. Uma questão fundamental, nas fases iniciais da discussão, era saber se a luz se propagava a uma velocidade finita ou instantâneamente. A resposta foi dada por um astrónomo Dinamarquês, Roemer (1644-1710), através do estudo dos eclipses dos satélites de Júpiter, que não eram regulares. Em 1675 concluiu, que isto era devido ao tempo que a luz proveniente dos satélites de Júpiter levava a atingi-lo, aumentando o tempo quando a distância aumentava, em virtude da velocidade finita da luz. 


Os conhecimentos actuais sobre o diâmetro da órbita terrestre permitem concluir que a luz se desloca no espaço (no vácuo - fora da atmosfera) à velocidade de 3x1010 cm/segundo, ou seja 300.000 Km/segundo. Em virtude da velocidade finita da luz e da demora das mensagens nervosas a atingir o cérebro, vemos sempre o passado. A nossa percepção do sol, que dista 150 milhões de quilómetros da terra, está atrasada mais de oito minutos. Tudo o que sabemos dos elementos mais distantes visíveis a olho nu (a nebulosa Andrómeda) está extremamente desactualizado - vêmo-la como era um milhão de anos antes de o homem aparecer na terra. O telescópio espacial Hubble fotografou recentemente estrelas que se mostram tal como eram há milhares de milhões de anos, pouco tempo depois da formação do universo (que se estima ter uma idade entre sete e dezoito mil milhões de anos)


A luz é uma forma de energia. Pode descrever-se como a parte visível das radiações do espectro electromagnético. Outras radiações incluídas nesse espectro são a radiação infravermelha, as ondas de rádio, os raios-X, os raios ultra-violetas e os raios gama, etc.. A diferença entre a luz e as outras radiações que compõe o espectro electromagnético é que esta é a única radiação detectável pelos nossos olhos. As outras radiações são invisíveis. Podem ser sentidas ou "vistas" por meio de aparelhos próprios. Podem fazer-se fotografias com raios-X, com ultravioletas ou infravermelhos, ainda que não possamos ver tais radiações - assim como podemos através de um receptor de rádio ouvir emissões audio.


As radiações ou vibrações electromagnéticas propagam-se sob a forma de ondas, em vibração contínua do tipo sinusoidal (Fig. 2). O comprimento de onda, que é a distância entre dois pontos semelhantes da representação gráfica da "sinusoidal", determina a espécie de radiação. Os diferentes comprimentos de onda determinam a cor da luz que vemos. Uma luz com um comprimento de onda pequeno e alta frequência é azul-violeta e situa-se numa das partes visíveis do espectro. Uma luz com maior comprimento de onda e curta frequência é vermelha.


Relação luz/cor
Se "misturarmos" luzes de todas as cores do "arco-irís", incluindo os tons intermédios, obtemos a luz branca. Recorde-se que quando a luz branca incide em qualquer superfície, algumas dessas radiações coloridas são absorvidas e outras reflectidas, sendo a mistura destas que determina a cor da superfície (síntese subtractiva).
O princípio fundamental da fotografia colorida consiste na possibilidade de se reproduzir qualquer cor, a partir da mistura das três cores primárias aditivas (síntese aditiva) - vermelho, verde e azul-violeta. Assim, a mistura (adição) de vermelho e verde dá origem ao amarelo, o verde com o azul-violeta origina o azul-cyan e da combinação do vermelho com o azul-violeta resulta o magenta. Por esse motivo, essas três cores são denominadas "primárias aditivas" e a sua combinação a  síntese subtractiva das cores (fig. 3)



Na fotografia a cores utilizam-se as cores primárias da síntese aditiva e as da síntese subtractiva. Os filmes a cores são constituídos por três camadas sobrepostas distintas: a primeira é constituída por uma emulsão sensível ao azul-violeta. A segunda é sensível ao verde e a terceira é sensível ao vermelho. Entre a primeira e a segunda camada existe um filtro amarelo para evitar que a parte azul-violeta da luz (que corresponde ao menor comprimento de onda e à maior frequência) atinja as outras camadas, visto que estas também lhe são sensíveis.
Acoplado a cada uma destas camadas existe um pigmento cromático. Estes pigmentos têm as cores primárias da síntese subtractiva: ciano, magenta e amarelo.
- À camada sensível ao azul-violeta está associado o copulante cromático amarelo. - À camada sensível ao verde está associado o copulante cromático magenta.
- À camada sensível ao vermelho está associado o copulante cromático ciano.
Cada camada é sensível a uma cor primária aditiva e tem associado um pigmento da cor complementar, ou seja, uma primária subtractiva.

Luz natural e artificial
Em fotografia, a luz é provavelmente o mais importante dos factores intervenientes. Em certos casos, a luz pode ser tão específica ou invulgar que ela própria é o tema central da fotografia. A luz natural é mais variada e diversificada do que muitas das formas de iluminação artificial. 


(fig. 4 - António Carvalhal - Luz natural. Fim de tarde. Real. Maia - 2019)


Considera-se luz artificial a luz produzida por qualquer fonte luminosa diferente da luz solar. Os tipos de luz artificial mais vulgares usados em fotografia, são os produzidos pelas lâmpadas de incandescência, ou pelo "flash" electrónico. 


A expressão "luz artificial disponível" utiliza-se para todas as fontes de luz artificiais que não foram criadas específicamente para fotografar ou filmar. É a luz utilizada nas ruas e lugares públicos, instalações desportivas, industriais, etc. (fig. 5,  António Carvalhal - Fotografia realizada com luz artificial disponível. Porto - 2019) 

A luz artificial é constituída por lâmpadas de filamento, fluorescentes, vapor de mercúrio e de sódio, halogéneo ou led. Este tipo de luz não é o ideal para fotografia, pois a sua cor aparece sempre mais acentuada na emulsão fotográfica do que ao olho humano. Por exemplo as lâmpadas de filamento emitem uma luz alaranjada, as de vapor uma luz aparentemente branca, azul ou amarelada e as fluorescentes uma luz esverdeada.

No entanto, estas diferentes sensações cromáticas podem, na sua maioria ser corrigidas através do uso de filtros apropriados ou através de iluminação fotográfica adequada.
Na fotografia digital a correcção faz-se do uso de "menus" que emulam estes filtros.
A luz natural também tem várias cores ao longo do dia, embora nem sempre seja evidente, pois os olhos não têm grande capacidade de destrinção destas alterações da luz porque se acomodam rápidamente a elas. A luz natural pode ser mais quente ou mais fria conforme a hora do dia, a posição do sol, o local onde se encontra o observador e a existência ou não de nuvens que funcionam como filtro ou reflector, misturando a luz do sol com a aparência azul do céu 

(Fig. 6 -  George Krause - Bruma na Nova Escócia - 1965)

Temperatura de cor
"A temperatura de cor é a temperatura expressa em graus Kelvin (temperatura centígrada adicionada de 273) a que deveria levar-se o corpo negro (corpo que não reflecte qualquer radiação sobre ele incidente) para que emitisse uma luz de uma composição espectral idêntica à da luz em estudo". António de Figueiredo Cabral - Sensitometria fotográfica
Para medir a temperatura de cor usa-se uma escala calibrada em "Kelvin" (graus Kelvin) ou em "mireds" (graus micro-recíprocos). Por exemplo a luz da chama de uma vela, situa-se à volta dos 1930 K. A temperatura da cor da luz natural do meio-dia é normalmente da ordem de 5500K. De modo que, quanto mais alta for a temperatura de cor, mais "azulada" será a luz.
Cada emulsão para fotografia a cores é equilibrada pelo fabricante para reproduzir correctamente as cores quando iluminadas com luz de uma certa temperatura de cor.
É possível utilizar combinação de luz natural com a artificial, quer em exteriores, quer em interiores, com luz proveniente de janelas ou portas abertas. Pode utilizar-se a luz natural como iluminação predominante e a luz de relâmpago (flash) ter um papel secundário, ou pelo contrário esta ser a fonte principal de iluminação e a luz natural servir para iluminar um pouco mais as sombras.


Qualidade e direcção da luz
Embora à primeira vista se possa pensar que vemos as coisas exactamente como elas são, a qualidade da luz afecta imenso o aspecto da cena a fotografar. A iluminação desta varia conforme a intensidade, qualidade e direcção da luz. Qualidade é o termo utilizado para definir a natureza da fonte emissora de luz. Esta pode ser suave, produzindo sombras ténues, como a luz natural num dia nublado (fig. 7 - Constantin Manus - Grécia - 1983 ), ou "dura", como a luz do meio-dia no verão, que produz sombras marcadas e densas, com margens bem definidas e contrastes elevados (fig. 8 - S. Salgado - Brasil - 1987).
O mesmo motivo pode ter aspectos variados conforme a incidência predominante da luz.

Textura, forma espacial e gama tonal
A textura, a forma espacial e a gama tonal estão também intimamente relacionadas, entendendo-se como textura a qualidade da superfície da matéria ou forma espacial de uma superfície e a gama tonal a transição das altas-luzes para a sombra - a gama de cinzentos compreendidos entre o claro e escuro (fig. 9 - Jeanloup Sieff - 1971). Na fotografia a preto e branco os vermelhos-médios ou azuis-médios, são traduzidos por cinzentos-médios.
Se uma fonte de luz directa lateral permite revelar a forma espacial, a textura, normalmente, exige uma fonte de luz rasante para ficar mais acentuada (fig. 10 - Jeanloup Sieff - Textura - 1971). Mas como acontece com a forma espacial, quanto mais definição tiver a textura, menor é a necessidade de luz rasante e maior o contraste tonal resultante.

Luz incidente e luz reflectida
Em fotografia deve-se ainda distinguir luz incidente de luz reflectida.
A luz incidente é luz directa que ilumina uma cena.
Luz reflectida é a luz que sofreu uma ou mais reflexões até atingir o objectivo a fotografar, ou a luz que o mesmo reflecte e serve para a formação da imagem pela objectiva.
Para medir a quantidade de luz incidente num motivo ou que por ele é reflectida utiliza-se um instrumento denominado fotómetro. Os fotómetros podem ser independentes da câmara fotográfica ou incorporados no corpo das câmaras fotográficas.
A iluminação direccional produz sombras profundas que podem fazer aumentar o contraste e desaparecer os pormenores. O uso de um reflector (profissional ou improvisado) aclara as sombras, reduz o contraste e dá origem a imagens mais suaves.


Ansel Adams - Road-Nevada-Desert - 1960.   Ansel Adams - Ritter Range and Garnet Lake at Moonset - 1960.   Nick Knight - Susie smoking - 1988.   H. Cartier Bresson - Saint Lazare - 1932. Ansel Adams - Grande Canyon - 1941.   Ansel Adams - Mulher Navajo e criança, Canyon de Chelle - 1941.  Francesca Woodman - Providence, Rhode Island - 1975-78.   Ansel Adams - s/d. Ansel Adams - s/d


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